Há tempos procuramos uma maneira de ajudar as/os jovens a se interessarem pela Bíblia. A leitura popular tem sido a mais feliz nesse desafio, graças ao seu método de contextualização e atualização dos textos. Mesmo assim, muitas/os jovens encontram dificuldades, por não se identificarem com a linguagem, ou com as problematizações já consagradas (reforma agrária, desemprego, discriminação da mulher e dos negros etc.). Como, então, aproximar Bíblia e Juventudes?
Uma tentativa muito comum é procurar personagens jovens na Bíblia. Porém, se nos limitamos a isso, ou teremos uma visão fragmentada das Escrituras (isto é, deixamos de lado trechos e até mesmo livros inteiros), ou “adaptamos” (pra não dizer “distorcemos”) a interpretação, transformando todos os protagonistas em jovens. Walt Disney faz isso com Moisés, em “Príncipe do Egito”, ignorando que ele fugiu do Faraó com quarenta anos e viveu mais quarenta, escondido em Madiã, tudo isso antes de ter a experiência da sarça ardente (At 7,29-30). Tudo bem que essa idade é simbólica (40 anos = uma geração inteira), mas se é pra levar tudo ao pé da letra...
Diante desse quadro, em vez de descartar a leitura popular, podemos partir de seu princípio básico, que consiste em compreender o texto em seu contexto e identificar em que situações de nossa realidade ele se encaixa. Alguns/umas jovens poderão reagir, dizendo: “Isso já fazemos!” É verdade!!! Quer dizer... Pelo menos em parte! Os grupos juvenis são bons em atualizar os textos, mas dificilmente se detêm em contextualizar as Escrituras, isto é, entender como funcionava o mundo à época redacional da Bíblia.
Assim, trabalhando o livro de Jonas, por exemplo, num encontro de Bíblia e Juventudes acontecido no Rio Grande do Sul, pode-se constatar que, para a maioria das/os participantes, o protagonista era considerado um herói. Muitas pessoas ainda defenderam que Jonas era jovem, baseadas sabe-se lá em qual fonte, já que o texto não diz nada disso. Ora, Jonas representava o pensamento classista e racista da elite sacerdotal pós-exílica de Jerusalém. Basta ler o capítulo quatro para perceber que ele prefere morrer a aceitar que o amor de Deus transcende limites geográficos, perdoando e acolhendo outros povos.
Como ler, então, o livro de Jonas numa perspectiva juvenil? Bom, primeiro deve-se entender qual a mensagem do texto. As/os redatores procuraram, através de uma novela (sim, caro/a leitor/a – essa estória é uma ficção), opor a justiça da elite sacerdotal (= Jonas), punitiva, vingativa, à Justiça de Deus, restauradora e criativa. Jonas chega a distorcer o anúncio (compare Jn 3,4 com Jn 1,2 e 3,2), pois quer a morte dos estrangeiros. Apesar disso, percebe com desgosto o arrependimento e conversão dos ninivitas e o conseqüente perdão de Javé, ato este que transforma e gera vida.
Ora, justiça é assunto de Direito. Este, por sua vez, nos remete a uma reflexão sobre a aplicação das leis. Como andam as políticas públicas, especialmente para as juventudes? Aliás, sabemos quais são? Redução da maioridade penal, por exemplo, resolve o problema da criminalidade, ou pressupõe a criminalização das/os jovens? E as demais políticas públicas para juventudes? São sócio-educativas, inclusivas (como a de Javé), ou também pressupõem medidas "disciplinares” (como a de Jonas)? Elas visam proporcionar vida em plenitude para os jovens, ou controlá-los?
Comparando a leitura popular a um cardápio, essas seriam algumas perguntas para que as/os jovens, em vez de se servirem dos “pratos feitos” (isto é, leituras já consagradas), pratiquem uma Hermenêutica Juvenil, isto é, uma interpretação das Escrituras a partir de sua própria ótica. Não seria esta uma autêntica leitura juvenil?
José Luiz Possato Jr.
Paulista de São Carlos, morando há 5 anos em São Leopoldo-RS, cursando Letras na Ulbra/EaD, casado de segunda união, católico (mais latino-americano do que) romano, assessor do CEBI-RS e da Pastoral da Juventude, em busca da Hermenêutica Juvenil.
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Bah, mas já tamos aê???
ResponderExcluirAmigo Henrique! Foi um prazer ter escrito pro teu blog!
Quando precisar, estamos às ordens! Mas sabe, né... naquelas... sem prazo pra entregar, hehehehe...
Abraço!!!
Paz e Bem!!!